quinta-feira, 29 de janeiro de 2009


Bailarina que agitas o teu corpo ao som de uma música qualquer... Que enches a sala despida, fazendo-a lembrar a vida que outrora levara.

Bailarina que bailas sobre um espelho gelado, quebrando a sua calma com as tuas pontas, desenhando esses círculos perfeitos que envolvem toda a sala num terno abraço.

Bailarina que com a tua graça vais desenhando os teus braços na luz, abraçando o ar que há muito não era respirado, misturando a tua essência com a neblina que dança contigo.

Bailarina que com a leveza do teu ser caminhas sobre as águas e te esqueces da sua gelidão e aqueces o coração de quem de repente passa e vê tão cheia a sala antes inanimada.

Ao menos pudesse eu ser tão leve como tu.

Foto de Pedro Ramos
http://rameixions.deviantart.com/art/ballet-1-111119458

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O ESTRANHO CASO DE (benja)MIM BUTTON


Mais um dia da minha triste e confusa existência...
Será que há na vida uma altura certa para tudo? Será que se não vivermos a coisa certa no momento certo, tudo o que virá a seguir vai surgir sem nexo, sem possibilidade de evoluir?
Que confusão!
Caminho pela rua com aquela nuvem negra que há uns anos me acompanha sem vislumbrar um raio de sol ou as estrelas... Não conheço agora outra coisa senão esta sombra farfalhuda que mistura o alvo e o negro, que me segue para todo o lado e que me invade as entranhas. Queria lembrar-me da infância, onde o sol secava a areia húmida dos castelos de faz-de-conta e de quando os meus olhos reconheciam a Ursa Maior e a Estrela Polar. Agora não as reconheço, não me lembro de como são... 
Vejo-me agora homem feito, com uma porção de vida roubada, uma porção de vida estagnada... Olho para a imagem que reflecte o meu espelho e noto as mudanças... Eu acho que cresci... Mas a sombra não me permitiu avançar.
Entretanto como homenzinho que me julgava, consegui espreitar por entre a sombra que me barrava e por momentos lembrei-me do calor do sol e do enquadramento geométrico da Ursa. Mas era tudo diferente. O meu corpo mais maduro não estava preparado para reconhecer o que outrora era tão familiar... 
Tentei estudar aquelas imagens e sensações e tentei em vão percebê-las e construí-las de novo na minha cabeça... Mas a minha cabeça não se adaptou a elas... Senti-me a regredir. Aquele que se julgava homenzinho era de novo um adolescente... Em constantes conflitos interiores, a buscar o conhecimento não aprendido, a querer experimentar tudo aquilo que havia passado por mim sem se dar a notar. Quero aprender o mais rápido possível... Absorver o mundo de uma só assentada, recuperar o tempo perdido... Mas o tempo esse não pára e encontro-me em numerosas tentativas falhadas para o reencontrar. E tudo se torna confuso porque não vislumbrei o sol e as estrelas, o dia e a noite, no seu devido tempo... Essa fase já passou e esta carruagem já perdi...

Quando o vagão já se vislumbrava pequeno no horizonte ouvi então uma voz: "Não te preocupes, nesta vida não perdemos nada a menos que queiramos... Este comboio não tem uma hora certa, mais virão...". E deste-me a mão...

Remendo



E ainda nem há um mês passamos para outro Agnus Dei e já me sinto diferente...
Decidi descobrir um pouco do meu véu ainda espesso e pesado no que lhe resta, dando-me alento para procurar aquilo que me apraz...
Mas nem tudo é assim tão simples! Consegui juntar um remendo maior àquele de que me livrei e o véu está mais pesado que nunca... Especialmente aquele remendo que em vez de pura seda, mais parece um entrançado de aço usado pelos cavaleiros medievais para evitar que setas errantes lhes trespassassem o coração... Mas o meu não é assim... Não me protege e muito menos ao meu coração!
Chamemos a este remendo pregado no meu véu espesso e pesado, a busca. Busca do quê? Busca de quem? Eu não sei... Mas sinto o seu peso... E dou por mim obcecado por este remendo que consegue destoar no meu véu já espesso, pesado e escuro... E dou por mim a pensar... Devia ter escolhido a seda para remendo em vez do aço, que não é só pesado, é também magnético... À medida que o vou arrastando traz consigo aquilo que quero e o que não quero... Vai acrescentando sem filtro...
A donzela ao ver-me, eu, cavaleiro medieval com o seu véu espesso, pesado e escuro com o seu remendo de aço magnético, exclama: "Cavaleiro, devias ter escolhido um remendo como o meu... É de seda das Índias, fluido como o Ganges, leve como o ar... Assim estás a dificultar a tua busca... Cavaleiro, porque andas tão apressado e porque queres logo o mundo?".
E reflecti no que me disse...
Não procuro mais do que aquilo que acho que mereço... Mereço um dia poder arrancar o meu remendo e colocar sobre mim aquele véu fino e colorido de escarlate e púrpura, não sei de que material, não sei se fluido como o Ganges, e espero que leve como o ar...

Foto de Pedro Ramos




Sou ingénuo... E depois?


Sou o que sou... Mas cada vez sei menos quem sou!
Sou como sou e cada vez menos me agrada como sou...
Apesar de tudo sou a pessoa fácil que quer agradar a tanta gente e não é capaz de se agradar a si próprio. Sou aquele que se esforça por parecer bem aos outros e quando se vê ao espelho a imagem que retorna é pior que um mendigo sem tecto, pior que um sem-nome...
Quem imaginaria que a pessoa mais me custaria a conhecer fosse eu mesmo?
Aparento ser uma pessoa inteligente, aparento ser aquele que está de bem com a vida... Não é difícil fazer amigos nem é difícil alguém ser meu amigo... Se ao menos eu conseguisse ser amigo do meu interior... Mas é difícil ser-se amigo de quem não se conhece...
Infelizmente há "amigos" que magoam! Amigos a quem nos damos e que não sabem dar-se a si. Amigos em quem o meu inimigo interno acredita sem duvidar e em quem o exterior, sem pensar, também acredita... Sou ingénuo...
Uma coisa é certa... Aquele que magoa ainda consegue ser mais meu amigo do que eu; o acto de magoar ensina, e eu comigo não aprendo!