quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Remendo



E ainda nem há um mês passamos para outro Agnus Dei e já me sinto diferente...
Decidi descobrir um pouco do meu véu ainda espesso e pesado no que lhe resta, dando-me alento para procurar aquilo que me apraz...
Mas nem tudo é assim tão simples! Consegui juntar um remendo maior àquele de que me livrei e o véu está mais pesado que nunca... Especialmente aquele remendo que em vez de pura seda, mais parece um entrançado de aço usado pelos cavaleiros medievais para evitar que setas errantes lhes trespassassem o coração... Mas o meu não é assim... Não me protege e muito menos ao meu coração!
Chamemos a este remendo pregado no meu véu espesso e pesado, a busca. Busca do quê? Busca de quem? Eu não sei... Mas sinto o seu peso... E dou por mim obcecado por este remendo que consegue destoar no meu véu já espesso, pesado e escuro... E dou por mim a pensar... Devia ter escolhido a seda para remendo em vez do aço, que não é só pesado, é também magnético... À medida que o vou arrastando traz consigo aquilo que quero e o que não quero... Vai acrescentando sem filtro...
A donzela ao ver-me, eu, cavaleiro medieval com o seu véu espesso, pesado e escuro com o seu remendo de aço magnético, exclama: "Cavaleiro, devias ter escolhido um remendo como o meu... É de seda das Índias, fluido como o Ganges, leve como o ar... Assim estás a dificultar a tua busca... Cavaleiro, porque andas tão apressado e porque queres logo o mundo?".
E reflecti no que me disse...
Não procuro mais do que aquilo que acho que mereço... Mereço um dia poder arrancar o meu remendo e colocar sobre mim aquele véu fino e colorido de escarlate e púrpura, não sei de que material, não sei se fluido como o Ganges, e espero que leve como o ar...

Foto de Pedro Ramos




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